A organização nunca foi meu ponto forte. Na verdade, sempre tive dificuldade em criar uma rotina equilibrada — uma que me permitisse iniciar novos projetos sem me sobrecarregar e acabar abandonando tudo no final.

Tudo isso começou na minha infância, quando, aos quatro anos, minha mãe me buscava da creche para praticar capoeira. Depois veio o futebol. O vôlei. A dança. E diversas outras atividades que crianças adoram experimentar.
Crianças pequenas, claro, não sofrem de um grande mal da sociedade moderna: fadiga de decisões.
Celulares ainda não existiam, videogames eram para quem tinha mais condições, e minha maior preocupação era escolher entre o sabor de chocolate ou uva na sorveteria.
Quando fui para a faculdade, as coisas começaram a mudar. As decisões aumentaram e minha rotina se apertou. Entre trabalhos acadêmicos, estágios, estudos, sair com amigos, dar atenção a pessoas específicas e ainda tentar manter uma rotina de esportes, percebi que talvez não conseguiria dar conta de tudo.
As tarefas começaram a consumir mais do meu tempo, e algumas relações tomavam quase todo o resto. O único hábito esportivo que restava eram corridas esporádicas no parque — que, aliás, melhoravam muito minha concentração ao longo da semana.
E se eu tivesse a mentalidade que tenho hoje, provavelmente conseguiria manter tudo o que queria fazer — ou quase.
Mudanças essenciais
Agora casado, com uma filha de 1 ano, trabalhando em tempo integral e tocando um novo projeto com blog e YouTube, a única opção viável foi otimizar minha rotina ao máximo, de modo a não comprometer o que realmente importa na minha vida.
Para isso, precisei refletir sobre algumas questões importantes:
- O que realmente importa para mim?
- Quais métodos posso aplicar para construir uma rotina funcional, sustentável e leve?
Foi assim que comecei a aplicar pequenas mudanças que fizeram toda a diferença.
Alguns dos métodos que abordarei aqui:
- Encontrar seu propósito
- Tomar decisões que simplificam as próximas
- Otimizar o tempo com técnicas simples
- Aprender a dizer “sim” e “não” com sabedoria
- Recarregar suas energias de forma intencional
1. Encontrar seu propósito

O propósito é uma grande paixão ou objetivo que te move intensamente — a ponto de sua mente permanecer focada nisso por horas.
Alguns livros tratam desse assunto ao falarem de hiperfoco, especialmente em contextos como TDAH ou autismo. Mas aqui, quero usar o termo de forma mais ampla e acessível, não técnica.
Grandes nomes da história como Thomas Jefferson, um dos principais autores da Declaração de Independência dos EUA, e Michael Phelps, o nadador com mais medalhas de ouro da história olímpica, dominaram essa habilidade — ainda que de formas bem diferentes.
Phelps tinha TDAH, o que dificultava sua concentração em contextos acadêmicos, mas ele encontrava seu hiperfoco natural dentro da piscina, onde conseguia permanecer por horas seguidas.
Jefferson, por outro lado, era um polímata. Letrado em diversas áreas, precisou desenvolver uma ampla gama de habilidades ao longo da vida.
Ambos tinham algo em comum: sabiam exatamente qual era seu propósito. E, com isso, conseguiam tomar decisões mais alinhadas ao que realmente importava.
Dicas práticas para encontrar o seu:
- Volte à infância: O que você amava fazer antes de ser influenciado pelas opiniões dos outros? Você ainda se interessa por isso?
- Trabalharia de graça? O que você faria com paixão, mesmo sem receber nada em troca?
Sei que muitos pensam: “quero ganhar muito dinheiro e então serei feliz”. Mas acredite: esse tipo de motivação é insustentável por muito tempo.
2. Tomar decisões que mudarão o rumo de suas próximas indecisões

Poucas coisas são tão desgastantes quanto gastar tempo com decisões repetitivas e irrelevantes ao longo do dia. Como por exemplo:
- Devo ou não comer aquele doce no armário?
- Envio a mensagem ao cliente de manhã ou à tarde?
- Prefiro receber minhas encomendas da Amazon na terça ou na quinta?
Essas pequenas decisões, acumuladas, provocam o que chamamos de fadiga decisional — uma das grandes causas do esgotamento mental moderno.
Se você leu meu resumo do livro Hiperfoco ou baixou o mapa conceitual gratuito, já deve saber que temos uma capacidade cognitiva limitada para gerenciar informações ativamente.
Se ficarmos o tempo todo ocupando essa capacidade com decisões menores, sobra muito pouco espaço para termos produtividade real.
A chave é tomar decisões claras e firmes, e não voltar atrás sem um bom motivo.
Seja honesto consigo mesmo ao tomar essas decisões. Talvez você não consiga cortar 100% do açúcar da sua vida para sempre, mas pode estabelecer regras claras sobre quando haverá exceções.
Vou dar um exemplo prático. Minha esposa tomou essa decisão há um tempo e os resultados foram incríveis. Ela definiu as seguintes regras:
- Nenhum açúcar refinado entra em casa — só mascavo.
- O uso de açúcar é restrito ao final de semana, em receitas como bolos ou bolachas.
- Em visitas, pode comer algo desde que não tenha leite nem trigo.
Essa última regra surgiu de outra decisão que tomamos no início do ano: eu tenho alta sensibilidade ao glúten, e minha esposa ao leite, então decidimos eliminar ambos de casa.
No fim do ano, após 8 meses sem consumir nenhum dos dois, compramos cápsulas enzimáticas para aproveitar as guloseimas de fim de ano. Mas não gostamos tanto assim das comidas — e decidimos não repetir a experiência.
No meu caso, a regra sobre o glúten não tem exceção. Isso torna muito mais fácil recusar bolos, pães e lanches no trabalho ou em eventos. A decisão já foi tomada.
Mas vá com calma. Verifique se suas regras são viáveis para sua rotina, tempo e condição financeira. O segredo está na clareza e constância.
Mais à frente, falarei sobre os Sins e os Nãos — outra parte essencial dessa mentalidade.
3. Otimizando o tempo com técnicas simples

Mesmo após meses testando métodos de produtividade, não posso dizer que sou a pessoa mais organizada do mundo. A verdade é que produtividade é um caminho, não um destino final.
Ainda assim, encontrei formas de trazer mais ordem ao meu dia — mesmo com bebê pequeno em casa. Aqui vão três estratégias que me ajudaram:
✅ Cronômetro de 15 minutos
Às vezes, achamos que arrumar a casa exige a manhã (ou o dia todo) de sábado. Mas com esse método, percebi que consigo manter tudo em ordem com apenas 15 minutos diários — e uma faxina mais caprichada 1x por mês.
Como funciona:
- Arme o cronômetro para 15 minutos.
- Arrume objetos fora do lugar, descarte papéis e embalagens.
- Organize prateleiras e mesas.
- Se sobrar tempo, lave a louça da pia.
Essa ideia se baseia em princípios parecidos com o método FlyLady, no qual você se inscreve numa newsletter e recebe desafios diários simples, como: “Deixe sua pia brilhando.”
✅ Lista de tarefas enxuta
Sempre gostei de fazer listas e marcar os itens concluídos — isso sempre fez parte da minha rotina.
Mas aprendi alguns ajustes importantes:
- Tenha apenas 3 tarefas principais no dia.
- Não inclua coisas que você sabe que não conseguirá cumprir.
- Não se culpe por não completar tudo, mas aprenda a ajustar sua lista conforme o tempo real disponível.
- Faça a lista pela manhã ou na noite anterior.
- Comece pela tarefa que você menos gosta, se possível.
Com o tempo, essa prática ajuda a construir consistência — e não frustração.
✅ Cronograma semanal de produção
A procrastinação de tarefas com prazo longo já virou piada pronta — como no caso do TCC:
1 ano vira 8 meses, que viram 6 meses… até que restam só 2 semanas (ou 3 dias).
Resultado: o trabalho fica ruim, incompleto ou nem chega a ser entregue.
Por isso, criei metas semanais que me ajudam a construir listas diárias mais realistas.
Exemplo da minha rotina de produção de conteúdo:
- Segunda-feira: escrever 1 artigo para o blog
- Terça-feira: fazer SEO e thumbnail do vídeo do YouTube
- Quarta-feira: escrever outro artigo para o blog
- Quinta-feira: produzir roteiro e gravar o vídeo longo
- Sexta-feira: criar 2 shorts e postar
- Sábado: revisar os artigos, inserir imagens, editar e lançar o vídeo
Essas tarefas são grandes. Em geral, foco em uma por dia, dado o tempo limitado. Mas, às vezes, termino mais rápido e consigo adiantar as tarefas de dias mais cheios.
4. Dizer “sim” aos outros é dizer “não” a si mesmo

Sempre que dizemos sim aos outros, corremos o risco de dizer não a nós mesmos. Esse é um conceito que sempre tive dificuldade em aplicar na prática — até que precisei tomar decisões que mudariam minhas indecisões.
Durante a faculdade, quase entrei em um burnout. Minha mente estava exausta. O motivo? Eu ouvia constantemente os problemas das outras pessoas e ficava buscando formas de ajudá-las. Era como se meu cérebro nunca tivesse descanso.
Um dia, conversando com uma psicóloga do CAPES, ouvi a frase que mudou minha forma de ver as coisas:
“Você não pode carregar o mundo inteiro nas costas.”
Simples, né? Mas levou muito tempo até que eu conseguisse internalizar essa verdade e ter mudanças reais.
Nem todo problema precisa de solução
Entendi que muitas pessoas não querem uma solução. Apenas querem desabafar. Hoje, quando alguém (fora minha esposa ou amigos próximos) começa a falar de problemas comigo, tento, de forma gentil, encerrar a conversa ou mudar de assunto. Não é por mal. É porque sei que minha mente vai entrar no modo “solucionador”, mesmo sabendo que não posso resolver.
Além disso, também era aquele que sempre ajudava com tarefas manuais: carregar caixas em mudanças, instalar tomadas, montar móveis, varrer o chão de lugares que nem eram meus. Nada disso parece muito — até você somar o tempo gasto em semanas e meses. São horas de trabalho invisível, que sobrecarregam nossa energia mental e nossa capacidade de tomar decisões.
Regras práticas para ajudar (sem se perder)
Hoje, estabeleci três perguntas simples antes de aceitar ajudar alguém:
- É algo que só eu posso fazer?
- Alguém pode me substituir enquanto faço essa tarefa?
- Tenho tempo real para isso?
Como professor, por exemplo, só troco lâmpadas ou resolvo problemas técnicos durante aulas genéricas de computação, quando deixo um inspetor na sala. Assim, não perco meu tempo de planejamento (Horas Atividade) e continuo ajudando.
Também aprendi que é melhor encaixar os outros no seu cronograma do que o contrário. Às vezes, isso não será possível — como em casos de doença na família ou visitas inesperadas. Mas, em muitos contextos, você pode liderar e organizar.
Quer um exemplo simples? Organizar o almoço em família. Criar um grupo no WhatsApp, marcar o dia e fazer uma enquete sobre o que cada um vai levar. Isso leva menos de 15 minutos e evita decisões de última hora que podem arruinar sua agenda.
5. Recarregue sua energia de forma inteligente

Uma boa noite de sono é fundamental para a produtividade. Isso você já sabe. Mas a recarga de energia vai além de dormir bem.
Eu, por exemplo, passei meses acordando entre 4 e 10 vezes por noite para cuidar da minha filha. Agora, finalmente, durmo melhor. E só agora sinto o impacto positivo e renovador de uma única noite bem dormida.
Mas há outros tipos de energia — e cada pessoa se recarrega de forma diferente.
Introvertido? Busque momentos a sós
Se você é mais introvertido, talvez precise de silêncio, de um tempo consigo mesmo. Um filme, um sofá, uma comida gostosa, um momento na cozinha. Se tiver filhos, combine com seu cônjuge e fique umas duas horas sozinho.
Dica para os maridos: se sua esposa é introvertida e cuida dos filhos o dia inteiro, não saia por 30 minutos apenas. Dê um descanso de verdade. Isso é cuidado, parceria e amor.
Extrovertido? Vá socializar
Se você é mais extrovertido, talvez precise ver amigos, sair de casa, ir ao parque, ao boliche ou a um café. Mas, se tem filhos, evite sumir o dia inteiro na casa de alguém sem envolver o cônjuge. Planeje. Seja consciente.
A ideia é simples: faça o que te energiza de verdade. A melhor dica é: quando alguém disser “nossa, como você está animado hoje”, você provavelmente está recarregado.
Resumo: como organizar melhor seu tempo e energia
Para melhorar minha produtividade sem perder minha saúde mental, adotei alguns hábitos simples:
- Encontre seu propósito: pense no que amava fazer quando criança. O que você faria mesmo se não ganhasse nada por isso?
- Tome decisões que evitam indecisões: decidir que só come açúcar no fim de semana, por exemplo, evita dúvidas em festas e almoços.
- Otimize seu tempo com técnicas simples: use um alarme de 15 minutos para arrumar a casa. Tenha uma lista com no máximo 3 tarefas complexas por dia. Se puder, faça um cronograma semanal.
- Aprenda a dizer “não”: insira os outros no seu cronograma, e não o contrário. Dizer “sim” a tudo vai te esgotar.
- Recarregue suas energias do seu jeito: descubra o que te dá energia de verdade — e separe um tempo só para isso.
Espero que essas dicas ajudem um pouco da sua rotina a se tornar mais leve e eficiente. Quer continuar lendo? Aqui no blog, você vai encontrar outros artigos sobre aprendizagem, foco, organização e produtividade.
Nos vemos no próximo post!